Ano passado eu e meu companheiro ficamos grávidos. Foi uma grande surpresa!!
Um tempo depois, pensei num filme daqueles de "Sessão da Tarde" que
assisti faz tempo. 28 dias. É um filme com Sandra Bulloc onde ela precisou
ficar internada por 28 dias numa clínica de recuperação para viciados e lá ela
ouviu uma lição que devia aprender a cuidar bem de si e de outras pessoas. Mas
para isso, ela primeiro devia cuidar bem de uma planta, caso a planta não morresse,
que ela começasse a criar um animal, e por fim, ela estaria pronta para cuidar
de um filho e de si mesma.
Quando fiquei grávida, não sei porquê, pensei nesse filme. E pensei que as
plantas de que havia cuidado em 2015 morreram e o único animal que tive na
vida, um peixe, foi "assassinado" por um gato de rua que entrou em
minha casa e capturou meu peixe dentro do aquário...
Sem pensar na história do filme (talvez apenas inconscientemente), ano
passado comprei uma orquídea para alegrar o apartamento onde morava com meu
companheiro.
Um mês com a orquídea até que suas flores murcharam e caíram. De lá pra cá,
só folhagem...
Cuidamos da orquídea nesse tempo, mas confesso que muitas vezes a orquídea
cuidou de si mesma... Fizemos uma mudança de cidade e alguns períodos viajando,
longe de casa. Mas também fui ao horto e comprei um vaso específico para
orquídeas e aditivos orgânicos e adubos próprios para a planta. Aah sim! Também
tivemos ajuda especializada da sogra para fazer esse manejo. É bem verdade que
a orquídea precisou ser resistente às intempéries de seus donos. Afinal, um ano
é bastante tempo... e nesse período muitas águas rolaram, e muita falta d´água
também.
Mas um ano se passou e numa manhã despretensiosa, a orquídea floresceu.
Com a gestação foi diferente. Prioridade em tudo. Mil cuidados. Todos os
exames e pré-natal em dias. Fiz de tudo para que o parto fosse natural, mas
infelizmente não deu. Uma intervenção cesariana de urgência. No fim, tudo
correu bem e 40 semanas e um dia depois... em janeiro desse ano, Ravel chegou.

Há que resistir!! Às intempéries. À imaturidade do filho. Ao não retorno de
tanta doação. Há de se ter ternura. Para persistir. Para perseverar. Para poder
ver florir. Para poder ver nascer o amor. Sim! Amor de mãe é construído! Não é
inato! Tenho convicção! Assim como a flor da orquídea não é inata. Se não
cuidar, ela morre e não vinga. Não floresce. A flor requer tempo. O amor pelo
filho também.
E o fato de minha orquídea ter florescido já é um bom sinal!! 😉
Nossa, que texto maravilhoso! Muito interessante a dinâmica que você fez com a orquídea!
ResponderExcluirChorando...sou retardada, mas sou feliz. Feliz por aprender e apreender sempre com meus pares nessa vida. Choro tbm pq hj estou mega sensível e aí tu inventa de voltar ao blog e soltar esse texto. Chorando e resgatando conversas, histórias...enfim, todos os retalhos q compoem a colcha de nós e que são pedaços dos outros...Essa vida que sempre segue, entre expectativas, frustrações, acontecimentos não planejados...Como as plantas mais resistentes, estamos nós...resistindo...florescendo e parindo. Amiga, amo vcs!
ResponderExcluirAmiga...que profundo. Espero que minha trajetória seja inspirada pela sua...te amo :)Oly
ResponderExcluirnão sei bem o porquê de caetano estar sendo minha trilha sonora e, ao ler tuas palavras, "menina do gás", o compasso da canção "oração ao tempo" foi fazendo as palavras bailarem melodicamente. orquídeas e mandacarus, vida e morte, movimento e inércia, parmênides e heráclito (vixe! coisa de gente chata que quer trazer esse povo da filosofia em tudo, né?)... mas, esse que "é um dos deuses mais lindos", parece ter um pouco de delfos, né? ele que nem oculta nem revela a verdade, só a insinua, parece ser um louco companheiro destas horas terrestres. tudo mais sonoro fica quando o "bolero" do teu rebento vem fazer-te mãe. um exercício que tem cheiro das flores do tão caatingueiro mandacaru e da tão "cheia-de-si" orquídea; um cheiro embalado por sons; sons que, para existir, precisam de uma cadência... e esta, só o tempo (acredito) pode dar. feliz dia teu, viu? bjo!!
ResponderExcluirQue lindo, mamãe Netinhaaa! Amei a analogia! Muitos dias felizes e cheios de saúde, sabedoria, flores, folhas e sobretudo raízes! Vcs moram no meu coração!!! Beijão
ResponderExcluirEscritora, professora, filósofa, companheira, mãe... Imagino o quanto vc tem se esforçado pra equilibrar todas as suas facetas num só corpo, num só coração e mente, mesmo quando vc inteira está sendo requerida de um modo muito intenso por Ravel. Claro que as mães não nascem prontas. O amor também não é incondicional. As mães tem limites, sim. Precisamos reconhecer tudo isso, e expressar compaixão diante da experiência construída por cada mãe e sua cria.
ResponderExcluirTexto que tece, de fato,a maternidade. Parabéns amiga. És fantástica.
ResponderExcluirRealmente ser mãe é aprender a valorizar cada etapa da vida. Afinal...aprendemos a ser mãe ,sendo e com isso vem a construção do AMOR.
Paciência, Cuidado, tempo...maturidade, cresimento, amor...como eu desejo esse diálogo ao vivo! Vou precisar ir em Bonfim logo! Um super beijo! Compartilhe sempre...as subjetividades dos nossos pares nos alimentam.
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