sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Ano Triste


terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O Sortilégio da Lua (Prosa)

Naquele dia, o sol se pôs pressentindo que a lua surgiria linda e encantada. Ao surgir, ela fez com que as estrelas caíssem. Foi como uma chuva de areia fininha de praia... Elas repousaram sobre o campo, sobre os rios, sobre o chão, sobre as casas, sobre as pessoas, sobre a criação...

Naquele dia, as estrelas caíram sobre o salão de danças, fazendo os corpos bailarem em emoções, sobre nuvens de cetim, em sonhos e devaneios... As mãos tocando-se suavemente, o passo dos pés, os corpos se acariciando, os poros transpirando paixão, o calor aquecendo a alma, o desejo acelerando o coração. Uma energia os atraía um para o outro e afastava-os de todo o resto que estava ao redor... Foram arrebatados! Por um instante, a música se tornou somente deles... o salão... só deles! Os seus rostos se tocaram e deixaram-se seduzir um pelo outro. A magia os envolveu e cristalizou o momento para brilhar livre no céu do desejo.

Naquele dia, a lua sorriu maravilhada; e sorrindo, sonhou acordada; e sonhando, amou em verdade; e amando, adormeceu...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Natal


Nasceu! Nasceu!
O Deus menino me trouxe esperança
de voltar a ser criança!!!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Deixo-te


Deixo-te!!
Não sem dor...
Mas deixo-te!!!
Para ser livre e voar!!
Para que as cores de suas asas fiquem cada vez mais vibrantes!
Para que pense sempre mais em você!
Para que me encante novamente...
E sempre...
E sempre...

E em cada verso seu,
eu voltarei!!!
E não deixar-te-ei jamais!!!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O Sortilégio da Lua (Verso)

 I
O sol se pôs em presságio
A palavra aconteceu
Surgia encantada a lua
No céu de estrelas e breu.

A lua fez descer estrelinhas
Por um toque de condão,
Brilhantes como um véu de poeira
Numa chuva fininha de ilusão.

A magia tocou a terra,
Os rios, o campo, o chão.
Tocou as casas, as pessoas e toda criação.
Naquele dia,
As estrelas caíram no salão.


II
Caindo sobre o salão,
Os corpos bailaram encantados
Sobre nuvens de cetim
Sonhos e devaneios foram criados.

O passo dos pés,
As mãos tocando-se
suavemente,
A paixão em odres e odores
Alma e coração aquecidos
eternamente.

Arrebatados!
Sozinhos no salão!
Desejos cristalizados.
Naquele dia,
Sedução.


III
A lua sorriu maravilhada.
E sorrindo,
Sonhou acordada.
E sonhando,
Amou em verdade.
Naquele dia,
Amando, adormeceu.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Anisíaca

Por Thiago Gusmão:



Rubra face em escultura diamantina
32 duas pérolas reluzentes,
cartão-postal em sorriso de menina.
Sobre formoso tronco de salgueiro
Despencas em cachos de cassia teus cabelos,
chuva de tons ébrios e negros.
E sob esses olhos de cigana,
Duas gemas vividas de paixão
Recantos de mistérios
Receita de pura magia e sedução.
Mas transbordas em perfumes de sutileza
Marca indelével de sua voz,
sopro de leveza!
Fostes inscrito o teu ser ao sabor das vagas praieiras
Livre como o mar conquistas alhures
Encantas e refrigeras sempre todas as paragens
Com toda tua graça e beleza ... anisíaca!

______________________________
Thi, muito obrigada pelo texto!!! Bjos!!!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Ser de Desejo

O que fazer com o amor que pulsa no peito? O que fazer com o desejo de saber? O que fazer com o grito de liberdade que está na garganta?

Somos seres desejantes!! Estamos sempre em busca daquilo que satisfaz alguma necessidade ou prazer. A pulsão de vida, EROS, nos move para o outro, para o conhecimento, para uma ação, um ideal, alguma coisa que dê sentido à existência. Coragem ou impulso, o fato é que a vida é sempre movimento. O desafio é sempre não ficar parado, estático! O relacionamento precisa de vida, o caminho do saber precisa das perguntas, as ações de justiça precisam responder aos problemas que estão gritando aos ouvidos sensíveis dos críticos!!

Sim, o desejo é eminentemente do ser humano. Não podemos negá-lo ou controlá-lo!! Mas podemos alimentar nossos desejos que produzem vida e dignidade, a fim de que nos tornemos capazes de criar e conhecer, amar e nos alegrar.

O que te move? Quem você deseja? O que faz você ter vontade de viver?

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Caosmótica

Sabe lá o que se quer
quando o que se quer é só saber querer...
Se a vida é o big bang,
onde está o equilíbrio das moléculas?

O caos da vida.
A vida do caos...
O caos na vida.
A vida é um caos!

Se estar vivo é estar em movimento
quero agora passear,
todo fim de tarde no jardim...
bem devagar...

O caos da vida.
A vida do caos...
O caos na vida.
A vida não é só caos!

Sou a vida!
Complexa.
Caos,
Homeostase.
Nem sempre um,
nem sempre outra.

O caos da vida.
A vida do caos...
O caos na vida.
Caosmose!

domingo, 7 de novembro de 2010

Ser em Cristo


"E a chuva caiu, os rios se encheram, os ventos sopraram e bateram com força contra aquela casa, contudo ela não caiu, porque estava alicerçada na rocha" Mt 7.25


Todas as pessoas passam por contingências na vida. Podem não ser as mesmas, mas todas passam! Todos nós passamos por problemas, dificuldades, temos que enfrentar dilemas, escolhas, decisões...
Dentre tantas circunstâncias, decidimos a cada momento como vamos nos comportar, qual "partido" tomar, qual papel assumir. E sempre seremos criticados e admirados pela decisão que tomarmos. O importante é que dentro de cada um haja uma base firme, não falseada, para conseguirmos SER diante de qualquer adversidade. Acima de tudo, ser quem somos verdadeiramente.

Para toque aquele que crê no Absoluto, o "EU" ressurge quando exercemos nossa existência com firmeza, leveza, consciência e tranquilidade. Assim, entendemos que as palavras do Cristo de Deus são base sólida para dar a cada um de nós alicerce de sermos nós mesmos.
Muitos não encontram o firme fundamento para o EU. Preferem dizer que o EU deve morrer na cruz... Sem nem entender que o 'ego' é extremanete necessário para uma vida de consciência e de liberdade!
Realmente o exercício de construir sua casa na rocha é difícil e doloroso. A maioria prefere se juntar a um grupo de pessoas com regras morais e costumes bem definidos, pois não será preciso pensar por si só... é só seguir o rebanho. Não tem uma base dentro de si, mas tem uma fora. Não deixa de ser um apoio que tenta dar sustento como o de "rocha" para a sua construção...
Mas assumir a palavra de Deus na sua vida é também assumir-se, é ter uma base sólida internamente, mesmo que todos à sua volta sejam contra.

É, por vezes, uma caminhada solitária, mas encontrar-se consigo mesmo é sempre voltar para o Pai!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Dói, logo existo!

Distanciar-se...
Caminhada árdua, cansativa,
demorada.
"Viver é muito perigoso".

Diferenciar-se...
Escapar da multidão
ter como companhia
a solidão.

Dizer e Desdizer-se...
No kairós*, tudo se descortina,
e acontece.
Pra quem vive a perguntar.


Definir-se...
Dor da existência
de ver, saber
e ser só.

___________________________
* Termo grego para indicar tempo. Não no sentido cronológico, mas como tempo oportuno, momento certo ou ainda tempo de Deus.

sábado, 9 de outubro de 2010

Aborto Espontaneamente Provocado

Quando nasci,
me deram um nome,
esse e não outro.
Me deram roupas,
essas e não aquelas.
Me deram uma formação,
essa e não a de lá.
Me deram conceitos, valores, moral,
esses e jamais qualquer outros.
Me deram papéis, função,
projetos e ilusão.
Me deram a liberdade de ir e vir...
Pra qualquer lugar que eles quisessem.
Ninguém me deu vida.
Foi quando morri.

sábado, 2 de outubro de 2010

Pronome Pessoal, Feminino, Singular




Pela manhã, uma.
À tarde, outra.
De noite, aquelas duas.
Enfim, no travesseiro: Ela.

sábado, 25 de setembro de 2010

Persona

O vôo do pássaro...
Longe dos outros,
perto do eu.
Longe da culpa,
perto do discernir.
Longe da moral,
perto da existência.
Longe do rebanho,
perto da individuação.

Mas onde se chega assim?
Vou descobrir o que me faz sentir...
Eu, caçador de mim!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

[E]difício

A construção.
Há tempos de pé!
Rachaduras, infiltração.
Antes que desabe, dinamite.
Escombros...
Sem luz, sem água.
Pouco a pouco, o caminhão do Entulho.
Tudo frio e nu.
Nova construção,
ainda no chão...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Sou Batista e não concordo com o Pr Piragine!!!!

Pessoal, gostaria de manifestar meu repúdio ao video que anda veiculando na midia de um posicionamento partidário e nefasto de um pastor batista de Curitiba.

O video que apresento abaixo é do Pr Marcos Monteiro, falando em nome da Aliança de Batistas do Brasil, da qual sou membro, e que defende o direito de cada pessoa, evangélica ou não, de votar segundo sua consciência, levando em consideração o conjunto de valores humanos, e sobretudo, o compromisso com a justiça e a solideriedade.


domingo, 8 de agosto de 2010

Thánatos

Quando o menino nasceu, seu pai lhe pôs o nome de Noite. Ele era bonito como a lua cheia! E o seu pai quis homenageá-lo com esse nome. Noite era um menino alegre, com muitos amigos, e distribuía sorrisos por onde passava.


Ele cresceu e casou-se com uma linda mulher que se chamava Sol. Ela era mesmo linda, como o raiar do dia... assim como a manhã acontece... quando os primeiros raois desvirginam a madrugada... e a dor da manhã é mesmo desejada.


Assim era Sol! Linda! Desejada!! E mais do que isso!! Cheia de vida!! Ela sim tinha dentro de si o dom da vida e de preservá-la. Quando Noite a conheceu sentiu que sua vida de beleza era diferente da de Sol. E foi isso que o atraiu à ela. Só que lua e sol, noite e dia... não se encontram, exceto num eclispse...

Mesmo sem entender, sem saber... Noite tinha dentro de si a companhia do breu e da tristeza... Pois quem rege as noites é Thánatos. Assim, num dia de muito vento, no meio de um redemoinho, Thánatos exerceu toda força que tinha em Noite. Foi quando Noite destruiu os momentos de alegria com Sol, para viver sozinho... apenas na companhia de si mesmo.


A vida intensa de Sol não era pouca, apenas impossível de mudar a força que Noite tinha dentro de si. E até que ele mesmo se liberte de Thánatos... nada fará com que ele seja feliz de verdade.


Sol ficou triste, porque Noite tinha a luz da lua cheia que a encantava mais que tudo! Mas o desejo de viver e o dom da vida que havia dentro de Sol fez com que ela brilhasse muito depois de algum tempo! Até hoje Sol ilumina tudo a sua volta! E tudo se renova a cada sorriso seu!! "Foi assim, como ver o mar", o dia que ela se apaixonou... Seus filhos são fruto do amor verdadeiro e sincero... Ela é escrava do seu amor, livre para amar!!


Mas Thánatos nunca deixaria Noite ser feliz assim... como Sol é! E é por isso que até hoje, por mais que as noites sejam desejadas pelos boêmios, que a lua encante os enamorados... ainda é na noite que a tristeza e o choro se sentem mais confortáveis... E é à luz do dia que a alegria brota de dentro da alma e que tudo se faz novo!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

os Dias

I
Que sangue é esse?
Que gente é essa?
Gente que sangra, que vive.
Intensa vida, impulsiva, grávida;
Sofre, arrebenta, erra, peca.
É assim que se vive essa gente
Dias de intensidade, os Dias...
Políticos, escritores, atrizes, professores,
Poetas...

II
E será que ainda assim aprende?
Aprender o que? Pra que?
Pra deixar de ser o que é...
E será que saberá ser outra coisa?
E será que saberá ser?
Ser... Er... R... ...


III
O sangue que em mim corre
É o mesmo que pulsa na veia do mar,
Quebrando as pedras, de tanto ir e voltar.
As raízes que me prendem
São as mesmas que me fazem voar,
Não corro além dos seus limites,
Sou as entranhas, as vísceras, as sombras da eternidade.
Sou o infinito no espaço do ser e do criar.


IV
E o pra sempre,
Sempre acaba...

sexta-feira, 30 de julho de 2010

O Imponderável

O imponderável da vida é assim. Ele chega sem pedir licença. A dor parece não ter fim. E tudo parece fugir ao seu controle. Mesmo quando o pior é esperado... quando a morte parece certa... nada se compara às proporções que sentimos quando tudo se configura, se instala!

Deus tem essa mania de ser o imponderável. Ele tem um segredo que não contou para os anjos, nem mesmo para seu filho, Jesus Cristo. O dia da sua vinda é como o ladrão que assalta a sua casa, não sabemos o dia nem a hora. Ele nos pega de assalto.


Quando Jesus foi escolher seus discípulos, muitos deles eram pescadores. E muitas são as analogias que podemos fazer entre os pescadores de peixes e os pescadores de homens. Deus age no imponderável talvez porque tenha aprendido com “o velho pescador que sabe quando é a vez do mar...” E daí não adianta remar, nadar, somente se entregar ao inusitado! Ele sabe que, nesses casos, o mais inteligente a fazer é apenas esperar a tempestade passar, o mar se acalmar... até que de novo possamos caminhar nas entranhas e estradas das suas ondas.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Sarxs*

Vísceras
Bulbo
Bílis
Vômito

Vértebra
Nervo
Tronco
Vítima

Vasos
Coração
Trombo
Hipertensão

Menisco
Tendão
Músculo
Lesão

Glândula
Mutação
Glóbulo
Febre

Boca
Bucho
Fome
Verme

Cérebro
Célula
Cárcere
Câncer

Veia
Sangue

Cabeça

Hipotálamo
Prazer
Seio
Sexo

Osso
Sinóvia
Cálcio
Ócio

Animal
Crânio
Paixão:
Corpo

Humano.

_____________________
*Sarxs: Transliteração da palavra grega para corpo, carne.

sábado, 19 de junho de 2010

E a vida? É bonita, é bonita e é bonita

Depois de cinco anos convertida ao protestantismo, fui a um culto fúnebre de um casal que havia morrido tragicamente num acidente de carro, deixando duas filhas adolescentes. Eles eram da Igreja Batista há bastante tempo e tinham amigos suficientes para lotar o templo e a área de fora da igreja. Foi o primeiro culto fúnebre que participei. E achei lindo! As pessoas cantavam em meio à dor. A esperança da salvação trazia um conforto imensurável aos enlutados. As pessoas não estavam simplesmente reunidas como em muitos cultos rotineiros, mas via-se um sentimento de ajuntamento, de comunhão. A morte, representada nos corpos, nada dizia ou impunha aos espíritos livres na eternidade da vida com Cristo. Assim, foi que o culto fúnebre tornou-se para mim, o mais belo dos ritos protestantes.
No entanto, hoje, quando penso no culto mais bonito que presenciei, penso na minha religião cristã. E quando penso nela, não posso deixar de lembrar da força com que ela se impõe a partir dos seus dogmas e moral na sociedade onde ela está. Se por um lado a religião contribui para o bem estar do ser humano, ofertando-lhe esperança de uma vida melhor hoje e na eternidade, autoconfiança por acreditar que existe um Deus que lhe protege e ama, laços fortes entre os membros da comunidade que auxiliam na sobrevivência, entre outros, existe também dentre vários desserviços à sociedade e ao indivíduo como ser-no-mundo, a tristeza de propagar uma religião para a morte.


Não é à toa que o culto fúnebre seja bonito, porque é para a morte que se vive, no protestantismo. Se por um lado, ajuda os enlutados a superar um momento difícil de suas vidas, além de preparar as pessoas a enfrentar a morte (o que não é ruim)... por outro, é almejando a eternidade que fazemos qualquer coisa na vida presente, inclusive negar essa mesma vida. O espiritismo também é uma religião que pensa na morte como rito de passagem, mas ao contrário de nós, protestantes, eles encaram a vida presente como uma oportunidade de fazer o melhor dela. Enquanto isso, nós encaramos a nossa vida toda, a única que temos, a única que nos foi confiada no presente momento, como um rito de passagem. E não sabemos aproveitá-la, mas negamo-la.


O poeta e cantor Gonzaguinha, um dos compositores que mais escreveu sobre a vida, diz em uma de suas letras mais conhecidas “O que é, o que é?”, que a vida é desejada, independente de como se vive. Ela, em si, é o mais importante. Viver melhor é uma coisa boa e deve ser almejado, mas viver já é o suficiente para que todo o resto aconteça. Gonzaguinha valoriza e dinamiza a vida, enchendo-a da própria vida. Encoraja que se viva melhor a vida que se tem, pois é o bem mais precioso que possuímos. Sem medo de ser feliz nessa vida, e lembrando que dela não somos professores, mas sempre aprendizes.


Penso que devemos aprender um pouco mais com os poetas. Eles falam e cantam a vida melhor que nós, protestantes.


O que aprendemos com a nossa religião é que a vida errada não merece ser vivida, a culpa católica presente se não na teologia, no imaginário protestante, faz com que se queira sim a morte, ao contrário do que diz a música: “Sempre desejada / Por mais que esteja errada / Ninguém quer a morte / Só saúde e sorte...”.


Podíamos também aprender que da vida não somos os mestres, nem os detentores do saber e da verdade, mas somos aprendizes. “Cantar e cantar e cantar / A beleza de ser / Um eterno aprendiz...” Aprendemos com nosso grande mestre, Jesus Cristo, e também com o nosso próximo. E se pensarmos nosso próximo como Emmanuel Lévinas, devemos aprender especialmente com o “outro” que é completamente outro de nós. Que seria: o outro da religião diferente, de etnia diferente, de sexo e orientação sexual diferentes, de situação econômica diferente, e tantas outras classificações diferentes que podemos apresentar.


Se somos fruto do “sopro do Criador, numa atitude repleta de amor”, então deveríamos amar mais a vida que temos. Importar mais em como viver bem, do que em morrer bem. O que faz das pessoas mártires é a sua expressão na vida, e não como morreram. Eles se toranaram lembrados pelo que representaram em vida e por sua luta na vida. A forma de sua morte é apenas consequência disso.


O culto fúnebre pode continuar bonito. Mas não gostaria que o culto fúnebre de minha religião fosse o rito mais bonito enquanto que sua teologia nega a vida, engana pessoas, oprime a vida à serviço da instituição, enclausura os fiéis com ilusões e culpa, subestima a capacidade de aprendizado do ser humano e se propaga como a detentora da verdade do mundo. Não quero cantar a música da morte, mas da vida!


“Viver, e não ter a vergonha de ser feliz (...) Eu fico com a pureza da resposta das crianças, é a vida, é bonita e é bonita!”

terça-feira, 15 de junho de 2010

Gênero e Religião

Atuar e pesquisar em defesa dos direitos das mulheres, hoje, no contexto latino americano, brasileiro, é diferente do contexto em que as precursoras do movimento feminista se situavam. Fazendo um paralelo dessas realidades percebemos mudanças inclusive no sujeito de nosso pensar e também no método pelo qual percorremos para traçar uma análise.
Após Joan Scott (SCOTT, 1990) ter estruturado o conceito de categoria de gênero como categoria relacional em diálogo com as teorias pós-estruturalistas, a teoria feminista sai da discussão de conceito de mulher, para a discussão de relação entre homens e mulheres, ou seja, para discutir gênero.
Atualmente, o contexto que temos é da categoria de gênero presente no campo teórico dialogando com outros saberes, influenciando e sendo influenciada por eles. As feministas hoje se encontram discutindo academicamente suas teorias, práticas e lugares políticos (SCHMIDT, 2004).
A prática teórica, como é chamada, deve sempre rever e transgredir os espaços de poder, dentro e fora do feminismo. Assim, a prática será sempre campo de atuação da teoria estudada, como campo de pesquisa.
Não devemos, contudo, pelo fato de abandonarmos as suas categorias de análise, ou o ponto de partida de suas análises, esquecer das matriarcas que lutaram no espaço político, e que tanto abriram espaço para nós hoje. Devemos sim, lembrar delas para dar uma identidade à nossa luta, já que estamos imbricados, relacionados e relacionando com outros saberes e categorias, como sócio-econômica, étnica, etc.
Em contrapartida, devemos subverter a essa identidade hegemônica e claramente demarcada como européia e norte-americana, e procurar nossa própria identidade, no que se refere a um contexto latino americano, brasileiro. Assim, a partir de princípios e exemplos da hegemônica teoria feminista devemos reler o nosso espaço e contexto criando uma prática e um lugar político onde caiba nossa realidade. Dando voz e vez a mulheres e lutas de mulheres que fazem parte do nosso cotidiano.
Não entendemos mais que homem e mulher é uma determinação biológica, nem que seus papéis na sociedade são uma construção masculina. Entendemos que a biologia determina macho e fêmea, e não masculino e feminino. Também que os papéis sociais são determinados dentro de uma cultura ideológica machista, androcêntrica, patriarcal, e que são exercidos, defendidos e reproduzidos por homens e mulheres. “Não se nasce mulher, torna-se mulher” (BEAUVOIR, 1980:9).
Encontramos, todavia, um espaço onde esses papéis masculinos e femininos estão demarcados e protegidos por uma força simbólica muito maior que a da cultura machista, que é o poder do sagrado (NUNES, 2005). A religião é o lugar onde se confere poder e autoridade para o discurso machista, e ali ele se fortalece e toma proporções de dominação ainda maiores. A importância que as pessoas dão ao sagrado é tão relevante que questões de opressão claras tornam-se sequer questionáveis pelo simples fato de atribuírem vontade de Deus a esta ou aquela situação. Os textos sagrados quando usados para legitimar a dominação da ideologia machista são um instrumento poderoso para dificultar a libertação dessa sociedade das relações injustas de poder.
Apesar de discutirmos relação, não devemos deixar de lembrar que discutimos aqui a partir da minoria, que é a mulher. E por isso, quando relacionamos Gênero e Religião e identificamos tantas mulheres nesse espaço, também demarcamos claramente que elas são maior número que os homens, e estão muito mais situadas nos espaços de prática religiosa e dos cultos, enquanto eles estão na administração, na elaboração das normas, regras e dogmas, na direção e domínio da palavra e dos instrumentos de poder, entre outros. Em alguns casos, as mulheres ocupam também esses espaços de poder, no entanto, elas são minorias quantitativas, e muitas vezes, reproduzem o discurso do sistema que as oprimem.
A aceitação desse cenário se dá devido a manutenção do patriarcado judaico-cristão, dos dogmas e das regras que foram muito bem construídos e consolidados ao longo dos tempos pelo poder do sagrado, ao ponto de ser reproduzido por homens e mulheres sem qualquer questionamento que pudesse vir a abalar as estruturas patriarcais da religião.
Por fim, parte da resistência que encontramos em mudar o comportamento e as relações de poder da sociedade é devido a influência dessa cultura ocidental-cristã que todos(as) nós, latino-americanos(as), brasileiros(as), nos encontramos. Sabemos que dentro da religião há movimentos, correntes e teologias que pretendem seguir pelos caminhos da justiça, liberdade, igualdade e fraternidade entre homens e mulheres, contra os fortes ideologias do machismo e sexismo. No entanto, estes movimentos e correntes não são as teologias hegemônicas presentes na religião, e o patriarcado ainda é uma forte influência determinada pelo poder simbólico que o sagrado impõe.

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BEAUVOIR, Simone. O Segundo Sexo. Vol. 2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
NUNES, Maria José Rosado. Gênero e Religião. Revista Estudos Feministas. 13(2): 256. Florianópolis. maio-agosto/2005.
SCHMIDT, Simone Pereira. Como e por que somos feministas. Revista Estudos Feministas. v.12 n. spe. Florianópolis. set/dez. 2004.
SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, vol. 16, n 2, Porto Alegre, jul./dez. 1990.

sábado, 12 de junho de 2010

SÓ NÓS

Passeando em mim
Sonhei a sós
Senti os sons
Desejei os nós

Fiz os nós
Atei os sons
Caminhei a sós
A mim, amei...

Sem tu,
Só eu,
Sem nós...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Seminarista em Construção

Se é verdade que crise faz parte da vida de todo estudante de Seminário (e eu acredito nisso), então também é verdade que nesses momentos uma das perguntas que mais aflige é: Porque estou aqui? Ou ainda: Pra que estou aqui no Seminário?
Os cursos ministeriais de Música e Teologia são cursos que vão além de um diploma, reconhecido ou não pelo MEC (não que o reconhecimento não seja importante! Pelo contrário!), mas o que move primeiramente cada um a fazer esse curso é no mínimo o desejo de poder contribuir de alguma forma com a Igreja Cristã e o Reino de Deus.
O diferencial de cursos como esses, é que tratam de questões primeiras nas nossas vidas, questões de fé, que perpassam nossas convicções, nossas crenças, nossas escolhas na vida, nossas estruturas, sobre as quais construímos nossos valores, nossa ética, nossas culpas, nosso céu e nosso inferno.
Para continuarmos mantendo viva a paixão que motivou a primeira entrega, temos sempre que nos questionar porque decidimos estar onde estamos, o que ainda nos motiva para estar aqui, o que não motiva mais, que sentimento novo poderá ter surgido... E nessas horas a crise contribui bastante. É o momento de pensar como Boff, de transformar a crise em criatividade e fazer ressurgir do caos uma nova ordem.
Apesar de alguns insistirem em nos dizer o contrário, chegamos aqui com uma bagagem existencial, eclesiológica e teológica. O que não podemos é achar que nossas malas estão sempre arrumadas da melhor maneira, podendo até acrescentar algumas peças, mas nunca desarrumar o que já está tão “organizado”.
Acontece que quando não deixamos as aulas, os professores, os autores com quem dialogamos, as conversas com os colegas, a comunhão dos internatos e vilas, a vivência acadêmica e o movimento estudantil desarrumar nossas malas, a vida se encarrega disso. Quando cheguei aqui o Reitor desse Seminário disse que até então conhecemos a Igreja como alguém que apenas sabe manusear o computador, mas não sabe operá-lo, abri-lo, ou não o conhece em sua estrutura. Mas aqui é o lugar de aprender tudo isso. E se não nos abrirmos para o conhecimento mediado com a vida, sairemos daqui talvez sem conseguir contribuir com tudo aquilo que sonhamos um dia quando pensamos em vir pra cá.
Ainda vemos fortemente, na maioria de nossas Igrejas Batistas, um único modelo de ser igreja, traçado em cultura, tempo e realidade completamente diferentes das que se nos apresentam hoje. E por mais que enfrentamos diariamente os problemas e as questões de uma sociedade pós-moderna, a Igreja insiste em nos dar respostas prontas, frases feitas e receitas formalizadas e canonizadas na Idade Média. Que nas nossas próximas crises ministeriais/existenciais não tenhamos medo de desarrumar nada... de repente nos surpreendemos! Vemos que nada estava tão arrumado assim... Vemos que outras escolhas são possíveis, outros métodos são eficazes, vemos que podemos contribuir com nossa experiência e criar algo novo do que está aí... Afinal... “eu prefiro ser uma metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo...”.

Novo Céu e Nova Terra

É certo que o mundo está em crise, que a economia vive momentos de incerteza e fragilidade, que estamos vivendo num tempo de mudanças, e mais que isso, numa mudança de tempos, de períodos, de ciclos!
Em meio a esse turbilhão, nos deparamos com situações pouco prováveis, mas que surpreendem por fazer germinar sementes de graça e esperança.
Quando imaginaríamos que no mundo capitalista que produz a individualidade e o consumo exacerbados, o egoísmo e a opressão, o domínio e a injustiça, cerca de 100.00 pessoas se reuniriam em torno de idéias e ideais comuns a todos os povos, totalmente contrárias ao sistema vigente?
Quem pensaria que chegaria ao poder, em países da América Latina, eleitos democraticamente, representantes de governo provenientes da classe operária, de tribo indígena, da Teologia da Libertação, de ideologia socialista? E que mesmo sendo uma interrogação para o mundo, os EUA elegeria um negro, proveniente de uma família muçulmana para presidente?
O Fórum Social Mundial, em sua oitava edição já acumulou alguns entraves e problemas. Porém não são maiores do que a mola propulsora que deu origem ao evento: a esperança de outro mundo possível.
Esse é o espaço do Fórum, onde todos que estão ali reunidos buscam um mundo possível para os povos do Planeta, sem distinção de raça, de sexo, de religião, de cultura, de nacionalidade! Um mundo de tolerância, de fraternidade, de partilha, de solidariedade.
O desejo pelo não-lugar, do ainda não. A presença da ausência. A esperança do que é possível. E aqui a Igreja de Cristo se vê, se identifica. Por acreditar na proposta de Jesus e buscar o Reino de Deus, o ideal de justiça e liberdade é também seu desejo.
A esperança engravidou a muitos. O fruto do ventre será o futuro. Futuro aqui como algo totalmente novo, não a perpetuação do presente, reformado ou mascarado. Mas um novo mundo, um novo céu, uma nova terra.A agitação do Fórum mobiliza, motiva, movimenta. Ficam os desafios, as lutas, o trabalho, o empenho, a disciplina, o prazer. E é aqui que a vida acontece, que o mundo gira, que as transformações são necessárias, que a palavra fará a diferença, que a ação será decisiva. É aqui que a Igreja tem a oportunidade de peregrinar como Jesus, de resistir como Jesus e de encontrar Jesus na companhia dos que lutam por justiça.
Feira de Santana, 05 de fevereiro de 2009.