domingo, 14 de maio de 2017

Sobre Orquídeas, Filho e o Tempo



Ano passado eu e meu companheiro ficamos grávidos. Foi uma grande surpresa!! 
Um tempo depois, pensei num filme daqueles de "Sessão da Tarde" que assisti faz tempo. 28 dias. É um filme com Sandra Bulloc onde ela precisou ficar internada por 28 dias numa clínica de recuperação para viciados e lá ela ouviu uma lição que devia aprender a cuidar bem de si e de outras pessoas. Mas para isso, ela primeiro devia cuidar bem de uma planta, caso a planta não morresse, que ela começasse a criar um animal, e por fim, ela estaria pronta para cuidar de um filho e de si mesma.
Quando fiquei grávida, não sei porquê, pensei nesse filme. E pensei que as plantas de que havia cuidado em 2015 morreram e o único animal que tive na vida, um peixe, foi "assassinado" por um gato de rua que entrou em minha casa e capturou meu peixe dentro do aquário...
Sem pensar na história do filme (talvez apenas inconscientemente), ano passado comprei uma orquídea para alegrar o apartamento onde morava com meu companheiro. 
Um mês com a orquídea até que suas flores murcharam e caíram. De lá pra cá, só folhagem...
Cuidamos da orquídea nesse tempo, mas confesso que muitas vezes a orquídea cuidou de si mesma... Fizemos uma mudança de cidade e alguns períodos viajando, longe de casa. Mas também fui ao horto e comprei um vaso específico para orquídeas e aditivos orgânicos e adubos próprios para a planta. Aah sim! Também tivemos ajuda especializada da sogra para fazer esse manejo. É bem verdade que a orquídea precisou ser resistente às intempéries de seus donos. Afinal, um ano é bastante tempo... e nesse período muitas águas rolaram, e muita falta d´água também.
Mas um ano se passou e numa manhã despretensiosa, a orquídea floresceu.
Com a gestação foi diferente. Prioridade em tudo. Mil cuidados. Todos os exames e pré-natal em dias. Fiz de tudo para que o parto fosse natural, mas infelizmente não deu. Uma intervenção cesariana de urgência. No fim, tudo correu bem e 40 semanas e um dia depois... em janeiro desse ano, Ravel chegou.
Com um filho nos braços de quase 4 meses e minha orquídea florescendo (ah sim... demorei uns 3 dias para conseguir terminar esse texto e nesse período meu mandacaru também floresceu!!) me veio a ideia de que filho e orquídea tem tudo a ver. Os dois precisam de tempo. Tempo para maturar. Tempo para crescer. Tempo para responder aos seus cuidados. Tempo para florescer. E na maior parte do tempo, convivemos com as folhagens, com a rotina, com a simplicidade, com o trivial, com o trabalho do manejo, dos cuidados... às vezes até com a escassez d´água... afinal, não somos de ferro. É mentira dizer que mãe aguenta tudo. Mãe também é gente e precisa de cuidados, de afeto, de tempo!
Há que resistir!! Às intempéries. À imaturidade do filho. Ao não retorno de tanta doação. Há de se ter ternura. Para persistir. Para perseverar. Para poder ver florir. Para poder ver nascer o amor. Sim! Amor de mãe é construído! Não é inato! Tenho convicção! Assim como a flor da orquídea não é inata. Se não cuidar, ela morre e não vinga. Não floresce. A flor requer tempo. O amor pelo filho também.
E o fato de minha orquídea ter florescido já é um bom sinal!! 😉