Datas comemorativas são apenas formalidades.
Sabemos que
enfrentamos restaurantes lotados no dia dos namorados só para cumprir um
script, pois, às vezes, é inclusive lá onde nos questionamos o que
ainda estamos fazendo que não terminamos aquele relacionamento.
Dia
dos professores chegou e fico me perguntando quanta demagogia nos
cartões que recebo em mídias sociais, sendo que ontem mesmo recebi
inúmeras mensagens de como a sociedade tem que se levantar para impedir
que professores imponham sua “ideologia” em seus filhos!
Os últimos
acontecimentos sobre exposições de arte no Brasil não demoraram para que
a celeuma do discurso conservador recaísse nos professores que levam
seus alunos para os Museus. Papel esse que é também da escola! Mas
desafio àqueles que se levantaram contra a arte a responderem não para
mim, mas para si mesmos, quantas vezes foram ao Museu, ou levaram seus
filhos ao Museu. E para aqueles que moram em cidades que não tem Museu,
quantas vezes visitaram um, quando estiveram em cidades que tem.
Entendo que o campo de batalha que se abre no Brasil hoje não é a arte,
nem a ida aos museus, muito menos um levante contra a pedofilia. Mas é
ter o controle sobre o que se pensa e o que se produz de conhecimento.
Lembrando de Michel Foucault, digo que é uma guerra que disputa a
soberania de um único regime de verdade para a sociedade. Há uma grande
reação contra um tipo de conhecimento que rege um tipo de saber, mas
também um tipo de modo de vida. E se para Foucault a sexualidade era o
ponto de concentração dos poderes ao corpo-população e ao corpo-espécie,
eu digo que o professor é o ponto de concentração da produção do
conhecimento múltiplo, diverso, abrangente, questionador, e que tem o
poder de influenciar gerações.
Numa perspectiva crescente dessa
batalha para impor um único modo de ser e de pensar na sociedade, o
professor está na linha de frente como inimigo número 1 dos
reacionários. Se já não bastasse ser uma profissão pouco valorizada e
remunerada, ainda temos que enfrentar agora toda uma sociedade raivosa,
perversa, castradora e intolerante ao diálogo e aos saberes diversos de
suas próprias ideologias.
Você já se perguntou porque acreditamos
que tal comportamento é o certo e não aquele? Você já se perguntou
quem/quando/como se valorou tal atitude em detrimento de outra? Qual
regime de verdade você segue? Quais verdades (e não estou aqui
questionando se é mesmo verdade ou não), mas quais as “verdades” que
você escolhe para si mesmo entre todas as “verdades” que lhe são
apresentadas? Por que você escolhe essas e não outras? Qual a influência
da legislação brasileira, ou da religião que você professa ou ainda da
recomendação médica e/ou científica que faz com que você escolha essas e
não outras? Qual “verdade” você escolheu sem que seja interferida por
nenhum desses poderes-saberes acima? Se no final das contas, você
percebe que nada do que você toma de verdade para si é puramente seu,
isso significa que alguém quer tornar esses poderes-saberes universais.
Reuni-los sob uma única forma de pensar. E transformar o professor em um
reprodutor de uma única voz, de um único saber, de uma única forma de
pensar a sociedade e seu regime de verdade.
No dia de hoje, eu quero mesmo é que pelo menos nós, professores, saibamos o que nos espera!
Que saibamos contar com o apoio uns dos outros. Porque só a luta muda a
vida. Mas a luta que se luta junto é que vira realidade.
Boa guerra para todos nós!
Nenhum comentário:
Postar um comentário