
Faz muito tempo que não venho aqui. A vida não tá fácil pra ninguém. Ainda mais pros Blogs. rss. As redes sociais tomaram o lugar dos Blogs. Primeiro os Vlogs, o YouTube. Depois o Facebook, o Twitter, o Instagram, o TikTok, o X, o Treads... Estamos na era imagética e conectada. Lá é mais fácil pra isso do que aqui. Aqui ainda tem o texto escrito como prioritário. Lá é a imagem. Poucos leem os textões. Textões de caracteres limitados. Enfim... comecei a me expressar por lá. Mas daí li uma amiga escrevendo porque gosta de escrever. Gostei muito. O que ela escreveu faz muito sentido pra mim. Voltei a escrever e publicar por lá para me expressar ao mundo nesse momento em que me encontro. Para deixar meu rastro. Para registrar meu amor por Ravel e pelos meus. Para registrar meu amor à vida. Mas depois que li minha amiga no Instagram eu lembrei que em 2020 eu fiz um caderno de Escrita de Si que não tem uma linha escrita. E lembrei do meu companheiro Foucault que tanto me orientou a escrever sobre mim... E então, percebi que voltei a escrever para me entender, para elaborar esse momento da minha vida, para me ajudar a expurgar os males, a ansiedade, o medo, a dor.
Acaso sou eu um diagnóstico? Eu já fui fisioterapeuta em outra fase dessa vida. E como profissional da saúde, sempre fui preocupada em humanização, em tratar os pacientes como pessoas qualificadas por suas histórias, por suas relações sociais, por sua existência humanizada e não pela desqualificação de um CID. No entanto, quando descobri um tumor neuro endócrino de grau I no duodeno, eu paralisei de medo, eu naufraguei na ansiedade, eu travei com um nó na garganta e fui para 54kg. Eu me vi um CID. Foi difícil.
Análise, psiquiatra, remédio, oncologista, exames, atividade física... fui aos poucos me reerguendo. E me enxergando uma pessoa de novo. Uma mulher, uma mãe, uma companheira, uma amiga, uma professora. E vi que aquela fase do início passou. Aos poucos fui me fortalecendo fisicamente, emocionalmente, espiritualmente. Até que passaram 4 meses e no domingo passado houve uma tentativa de ressecção do tumor sem sucesso. O procedimento não aconteceu. A lesão não se apresentou favorável. Frustração.
Logo a frustração deu lugar às narrativas de que tudo que aconteceu representa o que tinha que acontecer. O que tem que acontecer tem muita força. E se não era para ser desse jeito, então que não seja. Mas a ansiedade deu lugar para a compulsão. Se por um lado o tempo passa e eu não estou vendo as coisas se resolverem, por outro, eu quero resolver tudo que está ao meu pequeno alcance. Marquei todas as consultas possíveis. Todas as atividades possíveis. Preenchi todo o tempo possível... Canalizar a ansiedade. Mas eu preciso parar.
Algumas amigas me escreveram coisas maravilhosas: parar. ouvir. Ouvir o meu corpo. Ouvir Deus. Ouvir o silêncio. E isso me fez entender que de novo, e de uma maneira diferente, eu estava me vendo um CID.
"[Ana Davenga] sabia dos riscos que corria ao lado dele. Mas achava também que qualquer vida era um risco e o risco maior era o de não tentar viver". Conceição Evaristo em Olhos D´Água.
Não. Eu não sou um diagnóstico. E minha vida é maior que um CID. E tentar aprender a viver, a brincar, como estou tentando fazer agora, não é porque tenho um diagnóstico. É porque a vida é rara, é preciosa. É porque mesmo que viva 105 anos, como minha vó Anísia, ainda assim, só viverei 13 de março de 2025 uma vez.
Escrevo para me entender. Mas também para ser lida. Para ser lida por quem não conheço. Por quem não me conhece. Por quem busque no Google as palavras-chaves do texto. Pra ser lida por mim mesma no futuro distante.