domingo, 22 de setembro de 2013

O Livre Pensar em Saramandaia [2]


A dor de João Gibão durante toda sua vida, em ter que esconder que era uma pessoa com asas, é um sofrimento causado única e exclusivamente por contratos sociais de normalidade/anormalidade diante do que foi postulado como certo - regra, norma, lei, parâmetro -, por uns homens em detrimento de outros. E como se não bastasse a sociedade pressionar e tentar interromper o livre pensar, as pessoas que se arvoram nessa incrível experiência também se veem amarradas em ousar voos cada vez mais altos e duradouros. Quem já nasce com esse sentimento e essa perturbação dentro de si, muitas vezes se vê forçado a atar suas asas e a esconder de si mesmo sua força e virtude, o que é motivo de muita dor, tristeza e sofrimento.
E vencer a si mesmo, aos nossos medos, preconceitos, amarras... se transforma na primeira grande barreira a se transpor até alçar os voos do Ser. Mas não é fácil tentar se locomover com uma sociedade inteira (modelo de família, escola, religião, comportamento, sexualidade, trabalho, relações sociais) educando e instruindo o caminho que todos devem seguir. Os corpos são educados e castrados de tal maneira, para que se conformem a um único estado de convívio social. Imaginem as várias amarras que temos e que nem as percebemos!
Mas o espírito livre, irrequieto, clama por um quê a mais de existência, e, pouco a pouco, segue no caminho da individuação para uma vida em comunidade. A trilha, muitas vezes, é vivida sozinha, o que não significa que não haverá pessoas no caminho. Serão cruzamentos indispensáveis, mas que logo, também seguirão seus particulares caminhos. E o cruzamento com essas pessoas transformará sempre o nosso caminho, se deixarmos ser impactados por elas.
Liberdade implica se diferenciar da homogênea pasta humana fabricada pela global indústria cultural. Implica vencer antes de tudo, a nós mesmos. Implica primeiramente a nos aceitarmos e seguirmos um caminho que é exclusivamente nosso, a fim de estarmos em comunidade deixando um pouco daquilo que é exclusivamente nosso, mas também, sendo marcados por cada um e cada uma de maneira significante e subjetiva.

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